E os saberes das crianças ensinam à professora…

Tenho preparado muitos cursos que tratam da formação de professores/as que pesquisam a própria prática e, invariavelmente, tomo como referência a tese da Tamara Abrão Pina Lopretti, defendida em 2013, na UNICAMP.

É uma das teses mais lindas e inspiradoras que já li, não só pela delicadeza do registro da pesquisa, mas pela temática tão bem explicitada no título: “E os saberes das crianças ensinam à professora: contribuições para o desenvolvimento pessoal e profissional docente”. Tamara se pergunta: As crianças ensinam à professora? O que elas acreditam ensinar à professora no contexto educativo da sala de aula? O que a professora acredita aprender nesse contexto? Que saberes as crianças mobilizam e produzem que potencializam o processo reflexivo docente acerca do seu desenvolvimento pessoal e profissional?

Participando da banca e lendo a tese eu aprendi muitas coisas sobre a especificidade do movimento de produção dos saberes docentes que se dá no intenso diálogo/confronto com os saberes discentes. Dos muitos enunciados das crianças contando para Tamara o que eles achavam que ensinavam à professora, destaco um dos meus preferidos:

Por exemplo, professora, alguns professores, eles só querem… Por exemplo, você tem que fazer isso, isso e isso, e não tem tempo pra nada. Terminou uma lição, tem que fazer outra, mas eu acho que a gente te ensinou nisso: quando acabava uma lição, no começo, já ia pra outra rápido, mas aí você foi mudando e não ficava falando mais “Acaba uma lição, vai pra outra rápido”. A gente podia pegar um livro pra ler, conversar, fazer com calma e depois ir pra um outra lição… Você não falava “Mais rápido, rápido”, você espera todos acabarem e só depois que todo mundo acabou, passa outra lição. (Renan)

Vale ler e aprender com a Tamara e suas crianças consultando o texto completo:

http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/253918

Professor/a-pesquisador/a na escola

Ontem tive a oportunidade de mediar uma conversa sobre a pesquisa de professores/as, um dos temas que mais me interessam, em um curso de extensão da UNICAMP coordenado pelo Guilherme do Val Toledo Prado e Rosaura Soligo. Saí deste encontro com essa sensação: “Quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou!”.

Deste encontro participaram muitos professores/as-pesquisadores/as da educação básica que têm uma postura investigativa diante da complexidade do cotidiano escolar. O que entendo como professores/as-pesquisadores/as?

Eu e Guilherme, em um artigo publicado na Revista Educar (2007), tentamos definir como aqueles/as professores/as que

interrogam a sua prática, investigam, documentam o seu trabalho, analisam, fazem leituras, dialogam e constroem uma forma de compreensão e interpretação da realidade a partir da sua própria experiência.

Posteriormente, em um artigo publicado na Revista Educação da PUC-Campinas (2010), sistematizamos as características da pesquisa do/a professor/a:

  • Ser construída em torno de uma questão/dúvida decorrente da prática na escola (uma questão para a qual intencionalmente buscamos respostas, soluções, alternativas);
  • Estabelecer um diálogo com interlocutores – ‘outros significativos’ – que trazem contribuições para a compreensão da questão que se investiga: autores que estudaram o assunto, colegas de trabalho e demais profissionais com os quais se discute, todas as pessoas que ajudam a pensar etc.;
  • Ser organizada a partir de algum tipo de registro que permita ao professor aprender com e contra a experiência, ou seja, compreender e encontrar respostas, soluções, alternativas para a questão;
  • Estabelecer relações e produzir uma reflexão pessoal que contemple o percurso percorrido, desde a definição do que se pretendia investigar até os resultados, ainda que provisórios ou parciais;
  • Resultar num produto final a ser socializado de modo a incorporar sugestões e críticas de outros profissionais da educação e contribuir com o projeto de trabalho da escola.

E por que pesquisa dos/as professores/as da educação básica é importante? Ela é fundamental para:

  • valorizar a produção dos/as professores/as, ou seja, valorizar o que pensam, o que fazem e pensam sobre o que fazem;
  • sistematizar os conhecimentos e saberes produzidos nas escolas;
  • legitimar esses conhecimentos e saberes;
  • compreender melhor a realidade em que atuam e intervir na escola com mais propriedade;
  • teorizar sobre a prática, interpretar e questionar a teoria e a pesquisa de outros.

Na aba Publicações você encontra muitos artigos a esse respeito. Para começar sugiro:

A quem pode interessar?

Hoje começo uma nova experiência com a escrita: um blog! Neste espaço vou reunir reflexões e registrar experiências e aprendizados da vida profissional como professora, formadora de professores e pesquisadora. A quem pode interessar? Escrevo pensando nos meus alunos e ex-alunos, colegas professores e pesquisadores do campo da Educação, bem como profissionais de outras áreas interessados nos processos formativos que acontecem em múltiplos espaços. Fica o convite para me acompanharem!